Versões II

Ele era um poeta fantástico. Era tão fantástico que é inevitável não sentir inveja de como ele fazia tudo soar tão bem numa música. Não se pode desprezar a importância do seu parceiro Frejat, mas estamos tentando escrever sobre O Cara. Graças a ele, o Agenor, dias sim, dias não, vamos sobrevivendo sem um arranhão, da caridade de quem nos detesta... A primeira vez que fomos fazer uma versão de uma música dele (sem querer ser pretensioso e já sem falsa modéstia) ficamos emocionados com a atmosfera densa e verdadeira que criamos a partir da nossa identificação e apropriação do seu discurso. Faz até um tempo que não tocamos ela. Vou fazer uma campanha para que ela volte ao repertório... mesmo nesse momento em que a afirmação do nosso trabalho autoral tem sido prioridade, afinal o nosso primeiro filho tá vindo por aí. Não se preocupem com o pré-natal, tá tudo indo muito bem...

Blues da Piedade

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem